Dissertação - Rayara de Souza Julio

Ansiedade, depressão e engajamento no trabalho em profissionais da Atenção Primária à Saúde

Autor: Rayara de Souza Julio (Currículo Lattes)

Resumo

A precarização e fragilização do trabalho nos serviços de Atenção Primária à Saúde podem levar à sobrecarga e ao desgaste dos trabalhadores. Sob estresse, os trabalhadores tendem a apresentar sintomas físicos e psicossociais que impactam negativamente na sua saúde, comprometendo o desempenho laboral e a qualidade da assistência prestada à comunidade. Este estudo objetivou avaliar os níveis de ansiedade, depressão e engagement em profissionais da Atenção Primária à Saúde. Trata-se de estudo quantitativo, do tipo observacional e delineamento transversal, com profissionais da Atenção Primária à Saúde de um município de grande porte. A população do estudo foi composta pelos 340 profissionais das equipes de Saúde da Família das 17 Unidades Básicas de Saúde da Família, sendo 29 médicos, 46 enfermeiros, 58 auxiliares/técnicos de enfermagem, 207 agentes comunitários de saúde. Foram excluídos os profissionais que estavam de férias no período da coleta dos dados e/ou afastados das atividades profissionais por qualquer outro motivo. Os dados foram coletados em 2017, utilizando quatro instrumentos: um questionário elaborado pelos pesquisadores, contendo variáveis sociodemográficas e profissionais dos trabalhadores; a Escala de Ansiedade de Beck ou Inventário de Ansiedade de Beck (BAI); a Escala de Depressão de Beck ou Inventário de Depressão de Beck (BDI-II); a versão brasileira da Utrecht Work Engagement Scale (UWES). Participaram do estudo 173 profissionais, sendo 22 (12,7%) médicos, 28 (16,2%) enfermeiros, 38 (22,0%) auxiliares/técnicos de enfermagem e 85(49,1%) agentes comunitários de saúde. Houve prevalência de profissionais do sexo feminino (85,1%), ensino superior (44,5%), casados (60,1%), faixa etária de 21 a 35 anos (44,5%), com renda familiar de dois a cinco salários mínimos (64,2%). Sessenta e dois (35,8%) profissionais afirmaram apresentar alguma doença crônica; 114 (66,7%) se disseram satisfeitos com a profissão, no entanto, 107 (61,8%) já afirmaram já ter pensado em desistir da profissão. O tempo médio de atuação na atenção primária foi de quatro anos e um mês, sendo que 64 (37,0%) profissionais tinham entre dois e cinco anos de atuação e 58 (30,5%), até dois anos de atuação na atenção primária. Setenta e oito (45,3%) profissionais apresentaram algum grau de ansiedade, sendo 25,0% com ansiedade leve, 9,9% ansiedade moderada e 10,5% com ansiedade grave; e 71 (41,0%), algum grau de depressão, sendo 28,9% com depressão leve e 12,1% com depressão moderada. Houve diferença estatisticamente significante nos níveis de ansiedade entre as diferentes categorias profissionais (p=0,006), escolaridade (p=0,008), satisfação com a profissão (p=0,000) e ter pensado ou não em desistir da profissão (p=0,001). Em relação à depressão, houve diferença estatisticamente significante nos níveis encontrados entre as diferentes categorias profissionais (p=0,001), faixa etária (p=0,001), presença ou não de doença crônica (p=0,015), satisfação com a profissão (p=0,000) e ter pensado ou não em desistir da profissão (p=0,002). Os profissionais apresentaram níveis altos de engagement. Há um importante percentual de profissionais com ansiedade e depressão, muitos com ambas as patologias. Entretanto, apesar do comprometimento emocional, os profissionais possuem entusiasmo, energia e disposição para o trabalho, além de alta capacidade de resiliência.

TEXTO PARCIAL

Palavras-chave: AnsiedadeDepressãoEngajamento no trabalhoAtenção primária à saúdeSaúde do trabalhador