Tese - Cristiane Lopes Amarijo

O exercício da parrhesia por enfermeiros da Atenção Básica no cuidado a mulheres em situação de violência doméstica

Autor: Cristiane Lopes Amarijo (Currículo Lattes)

Resumo

A violência doméstica contra a mulher consiste em uma manifestação de relações desiguais de poder entre homens e mulheres, fruto da educação machista que a sociedade patriarcal perpetua ao longo dos séculos. No âmbito privado, determina padrões de relacionamento podendo desencadear a violência. As Unidades Básicas de Saúde constituem a porta de entrada para mulheres que sofrem violência doméstica e a equipe de enfermagem, muitas vezes, é que presta os primeiros cuidados à mulher. Acredita-se que os(as) enfermeiros(as) atuam como parresiasta, ou seja, que falam a verdade fornecendo subsídios para que elas transformem suas vidas. Através de seus diálogos, auxiliam-nas a transformar suas realidades, construir estratégias de poder e modificar a situação de violência. Nesse sentido, objetivou-se "Compreender o exercício da parresía por enfermeiros da Atenção Básica no cuidado a mulheres em situação de violência doméstica". Os objetivos específicos: "Identificar os dispositivos de poder envolvidos na ocorrência da violência doméstica contra a mulher"; "Analisar o exercício da parresía por enfermeiros da Atenção Básica que prestam assistência a mulheres em situação de violência doméstica"; "Analisar as principais dificuldades e facilidades do atendimento e cuidado a mulheres em situação de violência doméstica"; "Descrever os fatores que interferem no exercício da parresía e no cuidado à mulher em situação de violência doméstica" e "Identificar o conhecimento dos enfermeiros atuantes na Atenção Básica acerca da tipificação da violência doméstica contra a mulher". Participaram 20 enfermeiros atuantes em 13 Unidades Básicas de Saúde do munícipio do Rio Grande/RS. Pesquisa exploratória, descritiva, qualitativa, apoiada nos preceitos foucautianos. Para a coleta de dados empregou-se a técnica de entrevista, realizada entre abril a junho de 2018, cujo conteúdo foi inserido no Software NVivo e tratado à luz da Análise Textual Discursiva. Os resultados indicam que os(as) enfermeiros(as) possuem conhecimento da tipificação da violência; que exercitam a parresía quando assistem mulheres em situação de violência doméstica; que a assimetria nas relações de poder é um dispositivos empregado na ocorrência da violência; que a consulta de enfermagem é um momento oportuno ao exercício da parresía; que os entraves para o exercício da parresía são: confiabilidade nos relatos de violência, necessidade de provas físicas, dependência afetiva, desejo de manter o relacionamento, crença na mudança de comportamento do agressor, manutenção do status social de mulher casada e manipulação do agressor para que a mulher se sinta culpada pela violência sofrida. Não foram encontradas facilidades no atendimento a mulher em situação de violência doméstica. Confirma-se, portanto, a tese que "os(as) enfermeiros(as) atuantes na Atenção Básicas buscam exercer a parresía no cuidado à mulher em situação de violência doméstica através da informação, da busca pela garantia dos direitos da mulher, do estímulo ao exercício de poder e da coragem para denunciar". Conclui-se que diagnosticar a violência doméstica e agir como parresiasta é uma tarefa árdua que requer conhecimentos objetivos e subjetivos, bem como sensibilidade para interpretar o não dito. A enfermagem é uma profissão que pode gerar transformações sociais uma vez que está sempre engajada em ações de promoção da saúde.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Violência contra a mulherViolência domésticaRelações de poderGênero femininoPrática profissional