Tese - Deise de Oliveira Ribeiro

O significado da maternidade para as multíparas

Autor: Deise de Oliveira Ribeiro (Currículo Lattes)

Resumo

A multiparidade pode ser considerada um problema de saúde pública, uma vez que o elevado número de gestações pode ter relação direta com altos índices de agravos à saúde materno-infantil. O planejamento ineficiente do número de filhos pode ser determinante para a baixa qualidade do cuidado prestado à prole, gerando maior risco de acidentes e doenças na infância. O presente estudo teve como objetivo compreender o significado da maternidade para as multíparas. O marco teórico de referência é a corrente filosófica existencialista de Simone de Beauvoir que discute acerca da construção social da feminilidade, da paridade e da fecundidade. Como percurso metodológico, foram realizadas entrevistas abertas em profundidade com 20 multíparas cadastradas na Estratégia de Saúde da Família ou com filho internado na Unidade de Pediatria do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Júnior. Os dados foram analisados pelo método da Análise de Conteúdo de Bardin. Foram respeitados os aspectos éticos de acordo com a Resolução 466/2012 e projeto aprovado mediante parecer do Comitê de ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande sob parecer número 233/2018. Como resultados, elas tinham de cinco a onze filhos e foram relatadas as histórias de 136 gestações, eram mulheres de 25 a 74 anos de idade e com nível de escolaridade de não-alfabetizadas até pós-graduandas. Obtiveram-se três categorias: Causas, Consequências e Significado da Multiparidade. Sobre as causas da multiparidade surgiram: gestações planejadas, 35,3%; a instabilidade na rotina ou no relacionamento, 31,6%; a desinformação acerca de contracepção, 19,8%; e, não lembram, 13,2%. Assim, dentro dessas três grandes causas podem-se agrupar subcategorias, apresentadas como gestações planejadas: a necessidade de independência por conflitos na adolescência; elaboração do luto por morte de outro filho ou desmame e filhos planejados para completar a família idealizada. O segundo grupo das subcategorias são as causas relacionadas à instabilidade na rotina/relacionamento, que dificultava o planejamento familiar e também a geração de filhos para evitar a solidão da relação instável. O terceiro grupo é a desinformação, onde aparece descuido com os contraceptivos, gravidezes geradas em estupros e falta de conhecimento sobre planejamento familiar. A segunda categoria, as consequências da multiparidade, mostrou a violência sofrida pelas mulheres e suas dificuldades na vida cotidiana com os filhos, além de prejuízos para o autocuidado da mulher. A terceira e última categoria é a que trata do significado da multiparidade, mostrando através da transgeracionalidade o desejo em reproduzir o vivido no contexto familiar, em que 95% tinham multíparas na família e também precisavam da ressignificação da maternidade, explicando o fenômeno através da necessidade de ter o amor materno não experimentado ou reproduzido. A maioria, treze mulheres, não tinha uma figura materna positiva, já que quatro eram usuárias de drogas e três referiram querer uma família grande igual a de origem. Concluiu-se que a multiparidade é determinada por vários fatores que limitam a liberdade de escolha da mulher e a levam a ter mais filhos que o esperado por ela. O entendimento das causas, consequências e do significado da multiparidade para as mulheres pode fornecer instrumentos para subsidiar o trabalho com o Planejamento da Vida Reprodutiva nos serviços de saúde e nas escolas e, assim, oferecer à população mais possibilidades de escolhas no campo da reprodução.

TEXTO PARCIAL

Palavras-chave: EnfermagemParidadeNúmero de gestaçõesTaxa de fecundidadePlanejamento familiar