Tese - Sandra Beatris Diniz Ebling

Interações que sustentam o processo de viver de mulheres rurais em consumo abusivo de álcool

Autor: Sandra Beatris Diniz Ebling (Currículo Lattes)

Resumo

Este estudo contempla o processo de viver da mulher rural que vivencia o consumo abusivo de álcool, com ênfase nas interações dessa mulher com o contexto onde vive. O questionamento que este estudo se propõe a responder refere-se: as interações da mulher rural em consumo abusivo de álcool no contexto de seu viver são determinantes para o alcoolismo? Tem-se como objetivo geral aprofundar a compreensão acerca das interações da mulher que faz consumo abusivo de álcool e que vive no contexto rural. Especificamente objetiva:(1) Identificar os fatores associados ao consumo de álcool em mulheres que vivem no contexto rural; (2) Analisar as relações familiares de mulheres rurais em consumo abusivo de álcool no contexto rural; (3) Analisar as abordagens em saúde às mulheres rurais em consumo abusivo de álcool. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, orientado pela teoria bioecológica de desenvolvimento humano de Urie Bronfenbrenner. A pesquisa foi realizada com mulheres adultas, que residem em contexto rural do município de Capão do Cipó - RS. Para identificação das participantes, foram utilizadas duas estratégias de forma complementar: primeiro, a indicação dos Agentes Comunitários de Saúde, considerando suas vivências com as famílias em seu território de abrangência. Após, para comprovar o consumo abusivo de álcool entre essas mulheres rurais, foi aplicado o teste - Alcool Use Disorders Identification (AUDIT) - ferramenta rastreadora de uso de álcool em 32 mulheres. Destas, foram selecionadas para entrevista 23 mulheres, cujo escore indicou consumo de risco, sendo que 12 residem em assentamentos rurais. A coleta de dados ocorreu entre março e agosto de 2018, por meio de entrevistas semiestruturada, as mesmas foram gravadas e posteriormente transcritas. Como critérios de exclusão foram considerados, mulheres não cadastradas junto às Estratégia da Saúde da Família rural de estudo. Os dados foram submetidos à análise temática, balizada pela teoria bioecológica do desenvolvimento humano, a qual possibilita compreender as interações entre seres humanos, em diferentes contextos nos quais convivem. Os resultados deste estudo indicam que o contexto onde as mulheres rurais vivem influencia no consumo de álcool; as relações familiares se apresentam tanto fragilizadas como protetoras. As fragilizadas se associam a sentimentos de desamparo e agravamento de conflitos já existentes a família e as protetoras envolvem apoio, ajuda e preocupação por parte dos familiares. As abordagens em saúde se associam a uma atenção à saúde focalizada na medicalização e na clínica ginecologia sem reconhecer o uso abusivo de álcool como uma doença que também acometem as mulheres. Confirma-se, portanto, a tese que as características pessoais da mulher rural e as interações vivenciadas no âmbito familiar e no contexto ondem vivem direcionam o processo dessa mulher torna-se alcoolista. Conclui-se que se faz necessário a inclusão de diretrizes nas políticas públicas que contemple a problemática do consumo de álcool nas mulheres rurais e que os serviços de saúde estabeleçam estratégias que mobilizem as potencialidades das famílias dessas mulheres, a fim de reconstruir ou fortalecer as relações entre seus membros.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Saúde públicaSaúde da mulherServiços de saúdePopulação ruralAlcoolismoConsumo de bebidas alcoólicas