Dissertação - Daniela Claudia Silva Fortes

Assistência à saúde sexual e reprodutiva da mulher com transtorno mental

Autor: Daniela Claudia Silva Fortes (Currículo Lattes)

Resumo

O direito de desfrutar de uma vida sexual e reprodutiva segura e satisfatória, muitas vezes, é negado à mulher com transtorno mental. Apesar da conferência do Cairo ter emanado diretivas concernentes ao atendimento integral a saúde da mulher, esta recebe, nos serviços de saúde, um cuidado delimitado ao período da gravidez e fragmentado na medida em que a ênfase está nas questões voltadas à reprodução. Tal situação toma maiores proporções na mulher com transtorno mental, na medida em que, frequentemente, esta enfrenta situações de estigma e preconceito, não sendo vista como suficientemente capaz de autocuidar-se. A saúde sexual e reprodutiva da mulher com transtorno mental é um tema globalmente emergente, com discussão ainda incipiente na realidade do país de Cabo Verde. Este estudo teve como objetivo geral: compreender as influências que moldam a assistência à saúde sexual e reprodutiva da mulher com transtorno mental na rede de serviços de saúde da ilha de São Vicente/Cabo Verde/África. Especificamente, o presente estudo objetiva: (1) identificar a percepção dos profissionais de saúde acerca da saúde sexual e reprodutiva da mulher com transtorno mental; (2) identificar as referências de natureza cultural, acadêmicas e institucionais que os profissionais utilizam para moldar a assistência à saúde sexual e reprodutiva prestada às mulheres com transtorno mental. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de natureza qualitativa, que utilizou como referencial teórico a teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Leininger, desenvolvido com 17 profissionais de saúde que prestam atendimento a essas mulheres nos cinco Centros de Saúde, no Centro Reprodutivo e no Serviço de Psiquiatria do hospital geral de São Vicente/Cabo Verde. Os dados foram coletados a partir de entrevistas semiestruturadas, por meio de videoconferência entre Brasil e Cabo Verde, nos meses de setembro e outubro de 2018 e, posteriormente, submetidas à técnica de análise temática. Foram respeitados todos os preceitos éticos e legais da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde que trata de pesquisas com seres humanos. Os resultados, apresentados no formato de dois artigos científicos, apontam que a percepção dos profissionais de saúde em relação à saúde sexual e reprodutiva da mulher com transtorno mental é influenciada pelo contexto socioeconômico e cultural do país, o que leva a uma invisibilidade das competências dessas mulheres para o cuidado da sua saúde e a saúde de seu(s) filho(s). Essa situação agrava-se ainda mais devido ao fato de alguns profissionais considerarem que o cuidado dessas mulheres é da responsabilidade unicamente da psiquiatria. Nesse contexto, fica comprometida a prestação de cidados integrais à saúde sexual e reprodutiva dessas mulheres nos serviços de cuidados primários, o que acaba comprometendo a autonomia e os direitos sexuais e reprodutivos dessa população específica. Concluiu-se que os estigmas em relação aos transtornos mentais contribuem para aumentar as dificuldades dos profissionais para tratar das questões inerentes a saúde sexual e reprodutiva das mulheres, particularmente, a dificuldade para reconhecerem as competências desse grupo para cuidar de sua própria saúde. Em consequência, a assistência dispensada não responde as necessidades dessas mulheres, sendo que o principal foco é delimitado a prevenção da gravidez.

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Palavras-chave: EnfermagemSaúde sexualSaúde reprodutivaMulheres com transtorno mentalAssistência à saúdeQuestões culturais