Tese - Doris Helena Ribeiro Farias

A cultura como referencial de cuidado familiar à criança no hospital: subsídios para o cuidado na enfermagem

Autor: Doris Helena Ribeiro Farias (Currículo Lattes)

Resumo

O presente estudo qualitativo teve como objetivo compreender como o referencial cultural da família influencia o cuidado prestado à criança no ambiente hospitalar. Utilizou-se o referencial teórico transcultural de Madeleine Leininger, denominada Teoria da Diversidade e Universalidade Cultural do Cuidado e como referencial metodológico, a Etnoenfermagem. Foi desenvolvido, em 2017, na Unidade de Pediatria de um Hospital Universitáriodo sul do Brasil, mediante observação não participante, observação participante e entrevista com familiares cuidadores de crianças internadas. Participaram 15 familiares cuidadores das crianças hospitalizadas. Os dados foram analisados em quatro etapas, codificados e classificados de acordo com a questão norteadora, escrutinados para identificar a saturação de ideias e os padrões semelhantes ou diferentes, recodificados, sendo realizadas as formulações teóricas e recomendações. Os aspectos éticos foram seguidos, conforme Resolução CONEP 466/2012. Emergiram três temas culturais do conjunto dos dados: Crenças, valores e práticas de famílias no cuidado à criança no hospital; Barreiras presentes no processo de construção do cuidado familiar cultural à criança no hospital e Cultura familiar versus Cultura institucional hospitalar: inter-relação entre dois mundos. Destacou-se o aspecto cultural do cuidado familiar como importante para a recuperação da criança hospitalizada, podendo subsidiar o planejamento da assistência à criança e a prática de enfermagem socioambiental.As crenças, valores e práticas de famílias no cuidado à criança no hospital dependem dos seus referenciais culturais e manifestam-se, nesse contexto, por meio do cuidado com a alimentação, vestuário e higiene, do brincar, da manutenção do sono e repouso, do ser presença, da reprodução no hospital do ambiente do domicílio e do cuidado prestado em casa, do cuidado com a medicação, da construção de uma rede de apoio para o cuidado e do exercício da crença religiosa.O cuidado à criança no hospital é cercado de barreiras, impedindo que, muitas vezes, a família consiga prestar o cuidado à criança, manifestando-se culturalmente. Os dados do estudo mostraram como barreiras a necessidade da internação da criança como fator de vulnerabilidade familiar, o controle dos membros da equipe de saúde da unidade, as normas e rotinas do hospital e a necessidade de transgredir como manifestação de cuidado familiar, a dificuldade da família em lidar com a doença crônica da criança e a sobrecarga do familiar para cuidar no hospital.Durante a internação hospitalar da criança ocorre a inter-relação entre o mundo da família e o mundo do hospital e de suas culturas. Nesse sentido, verificou-se que, no hospital, ocorre a apreensão da cultura hospitalar como instrumento de cuidado familiar e a adaptação e flexibilização das normas e rotinas como instrumento de humanização do cuidado cultural.Os dados possibilitaram confirmar a tese apresentada de que os membros da família são seres culturais e a cultura influencia a forma como essas cuidam de seus membros. Considera-se, então, que a família cuida da criança no ambiente hospitalar baseada em seu referencial cultural, sendo importante a enfermeira levar este aspecto em consideração na sua prática de cuidado.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: EnfermagemCriançasHospitalizaçãoCuidado parentalCultura familiarAntropologia cultural e social