Tese - Maria Emilia Nunes Bueno

O processo de reconstrução da paternidade no contexto da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes

Autor: Maria Emilia Nunes Bueno (Currículo Lattes)

Resumo

A relação entre pai(s) e filho(s) envolve comunicação efetiva, sustentada em vínculos afetivos com características próprias, de acordo com a etapa do ciclo vital que se encontram tanto o(s) pai(s) quanto o(s) filho(s). Através desta relação são transmitidos os sentimentos de segurança e confiança ao filho desde tenra idade, assim como os valores, os saberes e os limites necessários para que mais tarde a criança, o adolescente e o adulto que vão se tornar possam viver em sociedade. No entanto, as famílias que convivem com situações adversas como a violência entre seus membros, o pai geralmente não consegue manter este tipo de relacionamento com seus filhos. Muitas vezes ele manifesta menor controle emocional, utiliza práticas agressivas e se mostra menos hábil na regulação do comportamento das crianças, o que acaba interferindo de forma negativa na relação com o filho. O objetivo geral deste estudo é compreender o processo de reconstrução da paternidade no contexto da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes. Especificamente objetiva: 1) Identificar as características pessoais e contextuais do pai com histórico de comportamento agressivo contra o(s) filho(s), que contribuem para a violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes; 2) Descrever a percepção do pai sobre seu comportamento na interação com seu(s) filho(s); 3) Elaborar estratégias para o cuidado de enfermagem com o(s) pai(s) que apresentam comportamento agressivo com o(s) filho(s).Trata-se de um estudo de casos múltiplos desenvolvido com uma amostra constituída de sete homens na faixa etária compreendida entre 27 e 45 anos, residentes no município de Rio Grande/RS, que apresentaram histórico de violência contra os filhos, incluindo violência física, psicológica ou negligência. Os dados foram coletados por meio de entrevistas em profundidade realizadas entre julho de 2014 a março de 2015, totalizando 56 horas de gravação, as quais foram conduzidas por um roteiro constituído de três partes. A primeira centrada em dados para caracterização do participante incluindo idade, número de filhos, estado civil, escolaridade, ocupação, carga horária de trabalho, renda e constituição familiar. A segunda voltada para a investigação dos processos vivenciados pelo pai no contexto familiar, com vizinhos, amigos e no trabalho. Na terceira parte foram utilizados vídeos montados com cenas que mostram a relação entre pai e filho(s), em momentos bons e momentos difíceis vivenciados em família, os quais têm a finalidade de estimular um processo reflexivo do pai sobre as situações cotidianas que pode influenciar positiva ou negativamente na relação com seu(s) filho(s). A organização, análise e interpretação dos dados foram realizadas tendo por base uma estrutura teórica construída a partir da teoria bioecológica do desenvolvimento humano e dos objetivos deste estudo. Como técnica foi utilizada a análise textual discursiva. Os resultados do estudo apontam que características pessoais como agressividade, impulsividade, dificuldade de determinação e baixa autoestima estão associadas com a dificuldade dos pais para desempenhar seus papéis e funções parentais. Apontam, também, que o pai se percebe como negligente, distante ou ausente da vida dos filhos e considera que o comportamento rebelde dos filhos é desencadeador da violência entre eles, embora os familiares o percebam como pai negligente, agressivo e responsável pelo comportamento rebelde dos filhos. A partir desses resultados, foram elaboradas estratégias para aprática de enfermagem, as quais incluem: conscientização do enfermeiro no trabalho com o(s) pai(s) que manifestam comportamento agressivo com o(s) filho(s); aproximação do enfermeiro com o(s) pai(s); identificação das necessidades prioritárias do(s) pai(s) com comportamento agressivo; identificação dos recursos pessoais e contextuais do(s) pai(s) com comportamento agressivo. Conclui-se que a construção de uma relação sensível entre pai e filho no contexto da violência intrafamiliar é um empreendimento que demanda trabalho integrado entre enfermeiros e outros profissionais, tendo como referência o fato que o comportamento agressivo de uma pessoa não determina sua identidade. Sendo assim, é importante resgatar de forma global as experiências do pai e não apenas aquelas que o definem como agressivo.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Violência domésticaPaternidadeFamíliaRelação pai-filhoCuidados de enfermagem