Tese - Mariana Soares Valenca

Prevalência de tuberculose prisional: fatores de risco e epidemiologia molecular

Autor: Mariana Soares Valenca (Currículo Lattes)

Resumo

Os desafios relacionados ao controle da tuberculose (TB) nas instituições penais desempenham um papel crítico na carga da doença em diferentes países. No entanto, as estratégias para lidar com estes desafios ainda não estão bem definidas. Diante disso, esta pesquisa se propôs a desenvolver três objetivos distintos: (1) sistematizar o conhecimento produzido sobre TB em presídios brasileiros, (2) caracterizar a TB prisional considerando variáveis epidemiológicas, diagnósticas e de genotipagem dos isolados clínicos e (3) descrever e discutir o processo de controle da TB em presídio. Para alcançar o objetivo 1, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, nas bases MEDLINE, LILACS e SciELO. Segundo estratégia de busca e critérios de inclusão, verificou-se que os estudos brasileiros efetivamente contribuem para melhor conhecer a magnitude da doença entre detentos, bem como, para a escolha dos métodos de triagem e diagnóstico mais adequados ao cenário prisional. São fornecidos índices de incidência e prevalência, tanto de TB ativa, quanto latente, além de dados sobre o perfil de sensibilidade e genotípico dos isolados clínicos. Os dados apresentados reforçam a necessidade da adoção de medidas voltadas a detecção, tratamento e acompanhamento de casos. Sugere-se que os novos desafios para a investigação científica, estejam atrelados ao desenvolvimento de saberes específicos acerca do manejo do problema em um ambiente repleto de particularidades como o presídio. Para atingir o objetivo 2, conduziu-se um estudo transversal em um presídio do sul do Brasil. Em que foram avaliadas as estratégias de busca ativa e passiva de sintomáticos, microscopia e cultivo de escarro, teste de sensibilidade aos antimicrobianos e genotipagem dos isolados clínicos. A prevalência de TB foi 12,9% (4.712,04/100.000), foram associados ao maior risco de TB: baixa escolaridade, tempo de prisão maior que três anos, tempo de tosse com escarro, história de TB pregressa, tabagismo e HIV positivo. A taxa de co-infecção TB/HIV foi de 18% e a prevalência de TB resistente de 7,79%. A genotipagem identificou que 58,33% dos isolados clínicos possuía padrão genotípico idêntico agrupando-se em um cluster de 12 e outro de duas cepas. Identificou-se que integrar estratégias de busca ativa e passiva, utilizando a busca ativa como indutora da detecção passiva de casos, seja fundamental para uma maior detecção de casos. Para descrever e discutir o processo de controle da TB em presídio, objetivo 3, a observação participante e registros em diário de campo foram realizados durante o desenvolvimento de estratégias de controle da TB em presídio. A análise de dados permitiu apresentar interpretações sobre o papel da busca ativa na detecção de TB, a contribuição dos questionários de sintomas, a fragilidade do seguimento clínico e a importância do envolvimento de diferentes atores. No processo de controle da TB identificou-se como potencialidades: a busca ativa como indutora da detecção passiva de TB, a comunicação de exames laboratoriais para tomada de decisão clínica e o aumento na detecção do número de casos de TB. As fragilidades estão associadas às especificidades da prisão e interação com serviços de saúde. Confirma-se que o controle da TB, quando abordado pela detecção e tratamento, tenha o planejamento de suas ações contextualizado às particularidades inerentes a um ambiente prisional específico e, não menos importante, à rede de atores envolvidos em cada local.

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Palavras-chave: TuberculosePrisõesDiagnósticoGenotipagem