As transformações do cuidado de saúde e enfermagem em tempos de AIDS: representações sociais de enfermeiros e demais profissionais de saúde no Sul do Brasil
Autor: Fabiani Weiss Pereira (Currículo Lattes)
Resumo
Em todo o território nacional o estado do Rio Grande do Sul ocupa o primeiro lugar no ranking de taxa de detecção de AIDS, patologia que desde seu surgimento, apresentou-se como um objeto de estudo para os profissionais da saúde, pela necessidade de ser desvelada e pelo imenso desafio a ser enfrentado cotidianamente nas práticas profissionais de cuidado, devido ao constructo histórico ligado às fases da epidemia. Dessa forma, a Teoria das Representações Sociais mostra-se adequada, pois um objeto de estudo só é capaz de gerar representação social se tiver relevância cultural e espessura social. Este estudo faz parte de uma pesquisa multicêntrica intitulada "As Transformações do Cuidado de Saúde e Enfermagem em Tempos de AIDS: representações sociais e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde do Brasil. Objetiva-se analisar as representações sociais das práticas profissionais de cuidado voltadas ao HIV/AIDS, de enfermeiros e demais profissionais de saúde, que desenvolvem as ações no Programa Nacional de DST/AIDS, na cidade do Rio Grande/RS. Foi realizado nos dois serviços que desenvolvem ações do Programa Municipal DST/AIDS. Coletou-se os dados a partir de entrevistas, realizadas com 19 profissionais, de nível médio e superior, no período entre outubro de 2012 e abril de 2013, e provenientes do banco de dados da pesquisa multicêntrica, a qual contou com a participação de docentes da Universidade Federal do Rio Grande e de integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem, Gênero e Sociedade. O projeto nacional foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande, sob parecer de nº 091/2010. Utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin sistematizada por Oliveira. Foram originadas nove categorias e dessas quatro foram analisadas em dois artigos. O primeiro referente às práticas profissionais de cuidado diante da transformação da AIDS e outro referente a cronificação da AIDS e a saúde pública. Os resultados mostram que existe uma transformação evidente na representação das práticas profissionais de cuidado, por meio de um processo de mudança que vem sendo operado nas representações sociais da AIDS, com a introdução da possibilidade de convivência com a doença e a diminuição da importância da morte, principalmente após o advento da terapia antirretroviral. Evidenciando que atualmente o empirismo do cuidado social está em evidencia, visto que há preocupação maior não está em torno da morte e sim das relações sociais. Ainda, apontam que a representação social da prática profissional é embasada na humanização do cuidado, no sucesso terapêutico e na prosperidade na qualidade de vida dos pacientes, principalmente pela disponibilidade e gratuidade das medicações, facilidade de acesso a exames, entre outros. Constatou-se que em relação à prevenção há necessidades de maiores investimentos. Conclui-se que os enfermeiros e demais profissionais de saúde reconhecem a dimensão relacional e não só a tecnológica do cuidado, e, ainda, que a representação social da prática profissional de cuidado da maioria não é visualizada apenas em torno da doença, mas do ser humano em sua integralidade.