Dissertação - Camila Daiane Silva

Representações de técnicos de enfermagem e agentes comunitários acerca da violência doméstica contra a mulher

Autor: Camila Daiane Silva (Currículo Lattes)

Resumo

Caracterizada como fenômeno universal, a violência acarreta incalculáveis prejuízos e agravos à saúde da mulher. No Brasil, embora exista desde 2006 uma lei de proteção, Lei Maria da Penha, os índices de violência contra a mulher são alarmantes. Na maioria das vezes, os atos violentos são ocasionados pelo parceiro íntimo no ambiente doméstico. Sendo esse um cenário de atuação dos Técnicos de Enfermagem(TE) e Agentes Comunitários de Saúde(ACS), acredita-se que a aproximação desses profissionais com as famílias possa facilitar a detecção da violência doméstica contra a mulher(VDCM) em suas diferentes formas. No entanto, sabe-se que muitos são os que reconhecem como violência, apenas aquela que deixa marcas físicas, representando as demais formas como manifestação de ciúme ou simples discussão. Objetivou-se analisar as Representações Sociais da violência doméstica contra a mulher, entre TE e ACS, atuantes nas Unidades Básicas de Saúde da Família(UBSF), do município do Rio Grande/RS. Desenvolveu-se o estudo em 19 UBSF, sendo 12 localizadas em zona urbana e sete na rural. A coleta dos dados ocorreu de julho a novembro de 2013, por meio de evocações e entrevistas. Na primeira, foram convidados a participar todos os TE e ACS. Solicitou-se que associassem, livremente, cinco palavras ou expressões frente ao termo indutor "violência doméstica contra a mulher". Para a entrevista, gravada e transcrita, convidou-se parte dos TE e ACS, tendo-se o cuidado de manter a proporcionalidade entre os profissionais e a representatividade entre as zona urbana e rural. Para a análise dos dados obtidos com evocações utilizou-se o software EVOC 2005, que permitiu a construção do quadro de quatro casas, a partir da qual se fez a análise de similitude. O material produzido pelas entrevistas foi tratado pela análise de conteúdo. Projeto aprovado pelo CEPAS, sob parecer nº 020/2013. Nas evocações, participaram 154 profissionais, sendo 115 ACS e 39 TE. O núcleo central das representações desses profissionais foi constituído pelos termos agressão, agressão física, abuso, covardia e falta de respeito. Os dois primeiros são elementos funcionais e os últimos, elementos normativos. Das entrevistas participaram 27 ACS e 12 TE. Com elas apreendeu-se que os profissionais têm a representação da VDCM como uma situação que precisa ser denunciada, bem como expressam que faz parte de sua prática de cuidado, assumir esse compromisso ético e legal. No entanto, referem que muitas vezes não denunciam para respeitar o desejo da vítima, deixando para ela essa responsabilidade. Evidenciou-se ainda que havia confusão no emprego dos conceitos de denúncia e notificação compulsória. Concluiu-se que a possível centralidade das representações sociais de TE e ACS acerca da VDCM fundamenta-se em aspectos negativos. Que tal representação apresenta elementos funcionais e normativos, os quais se referem a julgamentos dos profissionais em relação às ações do agressor e à qualificação das formas deviolência. Acredita-se que a análise das representações sociais dos TE e ACS acerca da VDCM possibilite compreender suas práticas de cuidado no cotidiano profissional além de contribuir para o delineamento de estratégias de enfrentamento, incluindo aspectos éticos, legais e de políticas públicas de saúde.

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