Dissertação - Edison Luiz Devos Barlem

Vivência do sofrimento moral no trabalho da enfermagem: percepção da enfermeira

Autor: Edison Luiz Devos Barlem (Currículo Lattes)

Resumo

Com objetivo de analisar a percepção das enfermeiras frente ao Sofrimento Moral vivenciado no cotidiano da profissão, relacionando a sua frequência e intensidade, realizou-se uma pesquisa do tipo survey, de caráter exploratório-descritivo, com 124 enfermeiras de quatro hospitais do sul do Brasil. A coleta dos dados ocorreu mediante utilização de um questionário auto-aplicável, denominado Moral Distress Scale (MDS), sendo composto por 38 questões fechadas relacionadas à situações que acontecem no cotidiano da enfermagem, com o acréscimo de questões de caracterização dos sujeitos. Este questionário utilizava uma escala Likert de sete pontos. Ao final do instrumento, uma questão relacionada à vivência do Sofrimento Moral foi inserida, proporcionando verificar, de um modo geral, se a percepção das situações vivenciadas no trabalho provoca Sofrimento Moral nas enfermeiras, relacionando também à frequência e à intensidade. Durante a análise, foram identificados e validados quatro constructos relacionados à percepção do Sofrimento Moral vivenciado, definidos como: negação do papel da enfermeira como advogada do paciente, relacionado ao potencial não utilizado pela enfermagem para reivindicar os direitos dos pacientes; falta de competência na equipe de trabalho, relacionado à ausência de habilidade ou competência técnica que deveria existir ao executar uma ação específica de cada categoria profissional; desrespeito à autonomia do paciente, evidenciando o desrespeito ao auto-governo, à liberdade, privacidade, escolha individual e liberdade de vontade do paciente; obstinação terapêutica, relativo ao tratamento que não mais beneficia o paciente em condições críticas, sendo considerado fútil, inútil. A falta de competência na equipe de trabalho foi o constructo que mais influenciou na percepção de sofrimento (4,55), seguido pela negação do papel da enfermeira como advogada do paciente (4,30) que apresentou um nível intermediário de sofrimento. Obstinação terapêutica e desrespeito à autonomia do paciente apresentaram-se como os constructos que menos influenciam na percepção de sofrimento, respectivamente (3,60) e (3,57), com diferença pouco significativa entre ambos. Foi verificada a importância da realização de reuniões de trabalho como um elemento possivelmente relacionado ao Sofrimento Moral, sendo identificada a maior frequência de ocorrência de reuniões com menor intensidade de percepção de sofrimento. Os resultados da pesquisa apontam a necessidade e a importância de realizar outros estudos sobre a ética, problemas morais e, em especial, Sofrimento Moral na enfermagem e na saúde, de modo a contribuir para a transformação da realidade, mediante o enfrentamento de situações do ambiente de trabalho, reconhecidas como aceitáveis, apesar de se caracterizarem como moralmente inadequadas por atentarem contra os direitos das pessoas, usuários e trabalhadores.

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